Reescrever
O Diário - 22 de maio de 2025

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais
Compartilhar
Mensagem, tom e estilo
Reescrever é antes um gesto de autoria intelectual e sinal evidente de maturidade linguística. Em uma cultura letrada que valoriza não apenas a produção, mas também a qualidade dos texto, a reescrita assume papel central na construção de textos mais claros, precisos e eficazes. Trata-se de um processo que vai além da simples correção gramatical e que envolve: o aprimoramento do conteúdo, a reconstrução crítica de ideias e o refinamento estilístico. Logo, dois aspectos tornam essa prática relevante para qualquer pessoa que deseje comunicar-se com qualidade: o primeiro diz respeito ao papel da reescrita no aperfeiçoamento linguístico e cognitivo; o segundo, à sua função como exercício de adequação discursiva a distintos gêneros e situações de uso.
A reescrita é um instrumento de aperfeiçoamento linguístico e cognitivo, pois permite ao autor repensar e aprimorar a organização de suas ideias. Ao retornar ao próprio texto, o sujeito reavalia argumentos, ajusta estruturas e enriquece a progressão temática, promovendo maior clareza e coesão. Por exemplo, ao revisar uma redação escolar, um estudante pode perceber que uma sequência de argumentos apresenta repetições desnecessárias e, reformulando tais trechos, torna o texto mais fluido e articulado. Em outro caso, um pesquisador pode, ao reler um artigo acadêmico, identificar uma falha na construção lógica do raciocínio e, por meio da escrita, reorganizar o encadeamento das ideias, fortalecendo a argumentação. Com efeito, a reescrita funciona como espelho intelectual, uma vez que exercita não apenas a escrita, mas o próprio pensamento.
Além disso, a reescrita constitui um exercício de adequação discursiva, pois possibilita ao autor reformular o conteúdo conforme o gênero textual e o público-alvo. A depender do contexto comunicativo, uma mesma ideia pode ser enunciada de modo formal, técnico, subjetivo ou persuasivo. Por exemplo, a proposição “Os hábitos moldam o futuro”, em um contexto motivacional, pode ser reescrita da seguinte forma: “Mude seus hábitos hoje e transforme o seu futuro”. Essa maleabilidade linguística revela que reescrever é também recontextualizar. Ou seja, adaptar o conteúdo ao contexto e ao público. Assim, ao reconhecer que o texto é um organismo vivo, capaz de ganhar novos contornos conforme a intenção comunicativa, percebe-se que dominar a reescrita equivale a costurar o próprio pensamento. Aliás, quanto mais precisa a linha, mais consistente se torna o tecido da linguagem.
Prof. Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais